Colheita 2016

Colheita 2016
Seja bem-vindo! E que nunca nos falte o pão, o vinho e a saúde e alegria para compartilhar!

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Bologna la Bella! - parte 1

São 12h42 do domingo e a foto abaixo foi feita 24 horas atrás, na Enoteca Italiana da Via Marsala, em Bologna - Itália.
Foi a minha última parada para uma taça de vinho (Sangiovese di Romagna feito pela Zerbini) e um panino (pão com mortadela fatiada na hora). Custou 6,50 euros - mais ou menos 15 reais, em um lugar simpático, meio loja, meio bar, meio enoteca. Pede-se no balcão, come-se em pé, com apoio em algumas simples mesas altas de madeira, entre as muitas prateleiras de bebidas e produtos que para nós são gourmet e para eles fazem parte do dia-a-dia.

Enfim, estou de volta de minha breve giornatta pelo norte da Itália. Tenho muito para contar e muito para mostrar.
Por hora, enquanto mato a saudade de minha família e espero que os pés deixem o inchaço das 14 horas em trânsito, deixo mais uma imagem, de uma pequena pizzaria que só serve pizzas em pedaços, no balcão, situada no centro de Bologna desde 1957. Os quadrados de pizza, mornos, macios, saborosos, custam entre um euro e 2,50 dependendo do recheio.

Arrivederci, a domani!
P.S.: Fazia em média 6 graus positivos por lá...aqui faz 29. Madonna!!!


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Bologna

Deixei algumas postagens prontas enquanto estou fora do Brasil pois sei, como leitora, como é chato visitar um blog que costumamos olhar todos os dias e não encontrar nada de novo.
Assim, se tudo correu como esperado, nesta sexta-feira estou na cidade de Bologna, conhecida como 'a gorda'.
Por que esse nome? Por um motivo de arrepiar os cabelos dos cardiologistas e endocrinologistas: é a capital gastronômica da Itália. As pequenas cidades vizinhas são as próprias definições do que é isso: Parma (presunto), Modena (aceto balsâmico), Cremona (mostarda), Reggiano (parmesao) etc. Deu para sentir o peso do nome? Isso sem falar em um molho que nos é muito querido, o bolonhesa...por aqui é mais um ragú e sempre é servido com massa fresca e não seca.
Mà vá...

Me dei ao luxo de não marcar nenhum compromisso hoje e assim pretendo caminhar, olhar vitrines, visitar igrejas e sentar-me em alguma agradável praça para tomar um 'vero capuccino con panna'.
Amanhã, sábado, inicio minha volta ao Brasil, que deverá tomar boas 16 a 18 horas.
Ciao!
Si vediamo a Brasile!

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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Convito di Romagna


Contando que nenhum vôo atrasou, hoje, domingo, estou na Itália, mais especificamente em Faenza, uma pequena cidade do norte, a leste de Bologna em direção ao mar Adriático.
Fui convidada, assim como meu amigo e também jornalista Marcos Pivetta, para participarmos do Vini ad Arte, um evento anual que apresenta a nova safra dos vinhos tintos da uva Sangiovese da região da Emiglia Romagna.
Os produtores (foto abaixo) se reúnem em uma espécie de consórcio, para favorecerem a divulgação e comercialização de seus vinhos e promovem o evento dentro do Museu de Cerâmica de Faenza, reunindo duas coisas que os italianos tanto apreciam, arte e vinhos.

Para os jornalistas (acredito que também estarão colegas de outros países), a programação é extensa e dura dois dias inteiros, com visitas a vinícolas, palestra sobre a uva Sangiovese nessa região, degustações e, é claro, jantares muito especiais, incluindo um restaurante em Ímola que tem duas estrelas no Guia Michelin.
Faz frio, a temperatura prevista para este final de semana não deve ultrapassar os 10/11 graus, mas isso favorece o consumo dos tintos e ajuda na elegância das mulheres (principalmente das gordinhas como eu).




As fotos acima são da edição do ano passado desse evento e mostram o Museu de Cerâmica (que está prestes a ser tombado pelo patrimônio histórico e cultural da Unesco) e o público da degustação.
Na segunda-feira, logo após o término do evento, vou para a cidade de Verona, onde vou visitar a vinícola Cesari, importante produtora de Amarones na terça-feira e no mesmo dia sigo para Conegliano, para conhecer meia dúzia de produtores de espumante Prosecco (de verdade!) até 5a feira à tarde.
Assim, já deu para perceber que não terei tempo livre para escrever no blog por alguns dias, mas com certeza volto cheia de novidades para contar.
Enquanto isso, bons goles e Salute!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ainda na Dal Pizzol

Durante o mesmo evento no qual foi apresentado o Vinhedo do Mundo, a Dal Pizzol reuniu o grupo de convidados para duas experiências deliciosas.
A primeira foi uma degustação às cegas, mas não como vocês estão acostumados a ver - literalmente - foi uma degustação na qual usamos vendas sobre os olhos!

Conduzida por uma das enólogas da Dal Pizzol, Simara Troian, esse tipo de degustação faz parte de um projeto chamado "tour da experiência" no qual as pessoas são convidadas a mais do que ver e provar, elas são convidadas a experenciar as coisas e os locais. 
A degustação com vendas sobre os olhos nos leva a buscar interiormente mais recursos para essa prova, pois estamos muito acostumados a confiar em nossos olhos e a tirar conclusões precipitadas utilizando apenas o sentido da visão. Quando a visão se vai, precisamos olhar para dentro e depois afiar os outros sentidos.
Fomos servidos de um vinho branco e um tinto e convidados a "ver" nossas reações à eles.
Não vou entrar em detalhes, pois considerei uma prática extremamente interessante e particular. Assim, deixo o convite para que façam a mesma coisa algum dia. Peçam para alguém lhe servir um vinho que vocês não conhecem e estejam vendados. Olhem para seu interior e deixem que os outros sentidos falem mais alto. Pode levar alguns minutos até calar a 'voz' da visão, mas vale a pena!
Depois da degustação e da apresentação do projeto pelo Diretor Técnico da vinícola, o enólogo Dirceu Scottá, fomos para o restaurante e enoteca da Dal Pizzol.


Enquanto a chuva caia silenciosa sobre o lago e a paisagem se recobria de uma fina névoa, fomos recebidos por uma fresca taça de espumante rosé e depois nos acomodamos no salão para um delicioso almoço, com saladas, carnes e massas.


Durante o almoço fomos servidos do tinto 1808, com a uva Touriga Nacional, que me pareceu muito mais agradável e macio agora do que quando o provei há pouco mais de um ano, do tinto Ancelotta (uva rústica que aprendi a respeitar justamente em uma degustação feita especialmente para minha ignorância na própria Dal Pizzol) e por fim provamos uma garrafa especial (que Dirceu Scottá aparece abrindo na foto abaixo), que foi um vinho comemorativo feito para a passagem do milênio com vinhos das safras de 1997, 98 e 99. Esse formato de garrafa é conhecido como Jeroboam.


Tive, logo após o almoço, a possibilidade de conversar um pouco com três dos irmãos sócios da Dal Pizzol (estavam quatro deles lá) e fiquei impressionada com o quanto o vinho brasileiro ganha por ter gente assim trabalhando.
No dia anterior eu havia estado na Wine Park, empresa que comprou os vinhedos da antiga Maison Forestier - que foi um dos mais bem sucedidos empreendimentos vitivinícolas do Brasil no passado - e fiquei sabendo que Rinaldo Dal Pizzol foi "o" homem da Forestier. Nada é por acaso em nenhum lugar, muito menos no mundo do vinho...
Assim, passar algumas horas com esse grupo é sempre uma aula sobre o vinho brasileiro, coisa que comigo parece acontecer com frequência quando vou a Faria Lemos. Que bom!
Para quem quiser saber mais sobre a Dal Pizzol, segue o link do site deles: www.dalpizzol.com.br





quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Vinhedo do Mundo

Quase todos nós que apreciamos vinhos (e muita gente que está começando a conhecê-los) nos perguntamos o quanto um vinho parece com a uva com a qual é feito.
Minha cabelereira, que bebe vinho mas quase não tem nenhuma ideia do que está provando, me perguntou ainda nesta semana se todo vinho tinto é seco e todo branco é doce, pois ela sempre achou isso óbvio.
Vejam só quão básica é essa pergunta na cabeça de alguém.
Eu tive que começar pedindo para que ela se lembrasse das uvas de mesa, as uvas que comemos no Natal e no Ano Novo aqui em SP. Se ela não tinha percebido que as escuras eram tão doces (e muitas vezes até mais) quanto as brancas.
Ela disse que sim, e só então parou para pensar e vi em seu rosto aquele vislumbre de entendimento.
Claro que é uma pessoa que não pretende se aproximar do vinho como nós, e devemos sempre nos lembrar dessas pessoas para mantermos o pé na realidade (deve ser a única coisa que nos separa dos enoarrogantes).
Mas mesmo entre apreciadores há uma dúvida que pouca gente tem coragem de perguntar: se a uva fina, na parreira, é doce.
Vejam só, não estou falando do óbvio. Estou falando que esse processo químico que transforma açúcar em álcool é óbvio para quem trabalha com isso e para quem pára e pensa, mas para quem simplesmente bebe uma taça de vinho aqui e alí, essa é uma questão que faz sentido.
E antes de me alongar em outra vertente: SIM, uvas no ponto ideal de maturação para vinhos não espumantes são doces, muito doces na verdade, sejam elas brancas ou tintas.

Assim, a experiência que vou relatar a seguir era, até bem pouco tempo, para poucos. Felizmente poderá ser para qualquer um que tiver a disposição de ir até Bento Gonçalves no começo de cada ano.
A Vinícola Monte Lemos (Dal Pizzol) promoveu, no último sábado, o lançamento de um projeto que eles chamam de audacioso e eu chamo de sensacional, o Vinhedo do Mundo.
Dentro do propriedade da família em Faria Lemos, onde fica o parque temático da uva e do vinho - sobre o qual já falei aqui - há um espaço de meio hectare (foto acima) que, desde 2005, vem sendo preparado pela empresa, em uma parceria com a Embrapa, para abrigar uma coleção de 500 variedades de uvas de várias partes do planeta.
Neste lançamento já estão em produção 164 variedades vindas de 22 países.
As autoridades presentes ao evento (e eram muitas!) colheram uvas de vários países e enquanto elas faziam isso eu caminhei entre os vinhedos e provei muitas cepas diferentes. Em minhas mãos, abaixo, vocês veem os cachos da uva Lambrusco, colhidos pelos jornalistas presentes ao evento.
Sim, é a uva - tinta - com a qual se faz aquele vinho frisante que uma porção de gente adora.
É uma uva típica da região da Emiglia-Romagna, que produz vinhos fáceis, mas não tão ordinários como os que chegaram a abarrotar prateleiras pelo Brasil afora há alguns anos. Muitos dos que ainda estão aqui nem sequer são espumantes naturais, portanto recebem adição de gás-carbônico para ficarem borbulhantes. É praticamente um refrigerante fermentado de uva.
Mas vejam como são lindos os cachos da Lambrusco (e de grãos muito doces).

Dentro do vinhedo, eu estive em Portugal e fotografei a uva branca Fernão Pires (que também é conhecida em terras lusitanas com um nome feminino - Maria Gomes) que pareceu-me bastante doce e de elevada acidez.

Fui até a Espanha, logo na fileira ao lado, e provei a tinta Aragonez (foto abaixo), com sua suavidade e sabor diferente, além de passear pelas cepas que fazem o Valpolicella (Corvina, Rondinella e Molinara), que estão todas lá, lindas, doces na fileira da Itália.

Enfim, imagino que deu para entender que aqueles momentos, sob chuva fina, que passei no Vinhedo do Mundo, foram uma breve e intensa aula sobre viticultura, como jamais tive em nenhum outro local.
Acredito que os objetivos propostos pela Dall Pizzol para a utilização desse vinhedo serão plenamente atendidos, que são o de ser uma referência cultural para a mais importante região vitivinícola brasileira, uma fonte de observação, estudo e fornecimento de material vegetativo, um atrativo turístico e - o que mais importa para nós, enófilos - um local para ver aquilo que só conhecemos por fotos ou em separado em viagens ao exterior.
Uma experiência inesquecível!
Na foto abaixo está Carlos Paviani, do Ibravin, que assim como todos os presentes, ficou muito impressionado com o projeto e com genuina felicidade no olhar ao colher o cachos de uva francesa Petit Verdot.

Na última foto aparecem alguns dos executores do projeto. Da esquerda para a direita, os enólogos Mauro Zanus e Humberto Camargo da Embrapa, o agrônomo Tiago, responsável pelo vinhedo e Toninho Dal Pizzol, um dos diretores da vinícola.






terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O melhor dos dois mundos!

http://www.youtube.com/watch?v=oxPuyrfHA3o

Cris, este é especialmente para você!


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

No sul...

É óbvio que tudo na vida tem dois lados, um bom e um nem tanto.
É claro que as coisas podem melhorar e piorar, e é claro que muitas vezes não nos damos conta dessa 'passagem' ou melhor, alternância de estados e situações.
Sexta-feira passada fiz meu marido acordar 6h para me levar ao aeroporto de Congonhas. Às 7h35 eu já estava lá com check-in feito, mala despachada e tomando meu cafezinho na sala de embarque.
O vôo sairia às 9h03 em direção de Caxias do Sul.
Não saiu.
Alegaram que o aeroporto estava fechado por conta de condições meteorológicas desfavoráveis.
Era mentira.
Um dos ultrajados clientes ligou para o aeroporto Salgado Filho em Caxias do Sul e soube que o local ficou fechado por breves momentos, mas já estava aberto naquela hora.
Nos colocaram em um vôo às 10h20 (que saiu quase 11h) com destino a Porto Alegre. Outras pessoas que - como eu - perderam compromissos profissionais por conta disso, descobriram que os vôos de Caxias e Porto Alegre foram unidos pois havia poucos passageiros em cada um deles...
Sim pessoal, é verdade. Não dá para provar, portanto não dá para fazer boletim de ocorrência.
Um grupo bastante indignado resolveu ir até a ANAC que - pasmem - não fica mais dentro do aeroporto, mas do outro lado da avenida e (incrível) só abre às 11h da manhã. Era ir até lá e fazer a justa reclamação ou perder o "novo" vôo.
Chegamos em Porto Alegre depois do meio dia e aguardamos em um ônibus com ar condicionado quebrado (e claro que com vidros que não abrem) até 13h, quando então saímos para a viagem de duas horas até Caxias do Sul.
Eu deveria ter chegado às 10h30 e cheguei às 15h, sem almoço, sem janela aberta e com a sensação de que a ganância de algumas empresas está beirando o ridículo, e prejudicando quem trabalha sério.
Quem paga/devolve a diferença da passagem? (ir para Porto Alegre é mais barato do que ir para Caxias), quem paga os compromissos desmarcados, as dezenas de ligações interurbanas via celular para avisar que não poderemos estar onde combinamos (e pagamos para) estar, quem paga a fome, o desconforto, a descortesia?
Ninguém paga, ninguém tem como reclamar nem como fazer nada. Só a GOL opera no aeroporto de Caxias do Sul, então ela manda lá. E como as condições climáticas são mesmo complicadas muitas vezes (e a pista é pequena e os aparelhos são antiquados), eles se dão ao desplante de usarem essa desculpa quando querem 'economizar' um vôo pelo qual os passageiros já pagaram.
Aluguei um carro e fui para o segundo compromisso que consegui remarcar pela metade. Iria ver uma parte da colheita da uva Pinotage, que seria até 16h, mas só consegui chegar na vinícola às 16h50. Felizmente, o enólogo ainda topou me receber para um papo e uma volta nos vinhedos.
Que bom que fez isso, pois foram as últimas horas de sol de um final de semana MUITO chuvoso, abafado e cheio de neblina em toda a Serra Gaúcha.

E esse é o lado bom.
A Serra é um encanto sob qualquer clima, muito embora um excesso de chuvas agora deixe os enólogos de cabelos em pé e - como me disse outro deles no sábado - "com um bolo de preocupação fermentando no estômago".
Lado bom e lado ruim caminham juntos nesta vida, e algumas vezes nos são apresentados com a clareza de um filme em 3D, com som surround, só não percebe quem não presta atenção na própria existência.
Este final de semana foi um deles.
Uma linda festa na Dal Pizzol ficou sendo contida e solta, feito rédea de potro, por conta da chuva que ia e voltava. Lá tive uma longa conversa com o super acessível prefeito de Bento Gonçalves, Roberto Lunelli do PT (foto abaixo), falando das dificuldades e vantagens do enoturismo e da indústria do vinho.

Vou falar de Dal Pizzol e do evento em uma postagem amanhã. Mas pouco antes de sair do evento, o enólogo me ofereceu mais uma taça de espumante. Eu recusei. Já fazia mais de uma hora que não bebia nada, pensando na estrada, na chuva, na neblina e no carro alugado que eu não conhecia direito.
Ainda bem. Poucos quilómetros depois de sair de lá presenciei um acidente grave, cujo socorro chegou praticamente ao mesmo tempo em que eu me aproximava do local.
Fiquei parada na estrada por mais de 20 minutos enquanto os bombeiros socorriam duas pessoas em macas e (creio) uma terceira estava sendo tirada das ferragens.
Só consegui distinguir um dos carros, o outro não dava para saber o que era. Fiz a foto abaixo de dentro do carro, pois (apesar de ser repórter) não vou olhar sangue se não puder fazer nada para ajudar. E o socorro já estava lá.
Gente! Sou do mundo do vinho, mas chuva, estrada, neblina já são itens demais numa coleção de perigos. Se essas forem as cartas do jogo, não coloquem álcool junto. É chamar a desgraça para perto.

Mas para encerrar bem, fica uma imagem de um casal muito querido (Gabriela e Christian) durante o delicioso jantar na Trattoria Primo Camilo em Garibaldi na sexta-feira, tomando espumante Gran Legado Champenoise.
Amanhã tem mais!



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Um comentário



Muita gente já ouviu falar que o vinho aproxima as pessoas, "que a cerveja faz amigos e o vinho os mantêm" e coisas do gênero.
Mas a imprensa do vinho (creio que como a imprensa em geral), tem muita fofoca, muita gente que se diz amigo para favorecer conexões e conseguir uma ou outra facilidade, principalmente trabalhando com um produto que é, na imensa maioria das vezes, um luxo. Acontece em todos os setores, é verdade, e os limites do que é trabalho, do que é prazer e do que 'seria' amizade, ficam um pouco esmaecidos quando convêm a uma porção de gente. No final das contas, este é um trabalho como qualquer outro.
Devemos nos respeitar e não usar de falsidade com tanta frequência.
Eu sou uma pessoa de poucos amigos. Gosto de muita gente, e gosto bastante delas, mas tenho poucos amigos.
Por viver das palavras, tenho enorme respeito por elas e evito usar a palavra 'amigo' se não for para alguém que eu seria capaz de considerar uma doação de rim, para ver quão séria é a coisa. 
Ainda por cima me incomodo com aqueles que são 'amigos de todos', que estão em todas as redes sociais só para somar números (talvez agora faça sentido que eu não seja boa com números...), que estão em todas as degustações, que são capazes de lhe chamar de amigo pela frente e de falar mal de você pelas costas ainda no mesmo evento.
E, ultimamente, tenho me incomodado com pessoas que mal me conhecem e mandam emails pedindo informações que elas, como 'trabalhadores da notícia' que se dizem deveriam procurar por sí mesmas.
Ninguém nasce sabendo e ninguém tem a obrigação de saber tudo. E é óbvio que algumas vezes é muito mais fácil mandar uma pergunta para uma pessoa conhecida que é especialista em um assunto, do que fazer uma pesquisa na internet com resultados múltiplos e duvidosos.
No jargão jornalístico a pesquisa se chama 'fazer a lição de casa', ou seja, ir entrevistar alguém sabendo o mínimo sobre essa pessoa, sobre o assunto que você pretende tratar, sobre uma situação em geral. Todo jornalista que se preza tem, também, suas fontes confiáveis, a quem recorrer em momentos de sufoco ou tempo curto e elas são bastante usadas e algumas vezes viram realmente amigas.
Mas cair de paraquedas em um assunto e sair disparando emails pedindo informações genéricas é pedir para não ser atendido. E não é coisa de amigo.
Tem acontecido muito no mundo do vinho brasileiro, quando alguém finalmente toma coragem de provar um vinho nacional e (alvíssaras!!!) descobre que presta e resolve acordar para esse mundo, pois ele pode lhe atrair algum bom negócio, algum novo esquema.
Sei que o próprio mercado se encarrega de separar o engaço da baga, eventualmente, mas enquanto isso gente boa perde espaço para aventureiros, publicações são lotadas de bobagens escritas por 'pseudo' enófilos do vinho brasileiro que trabalham de graça só para aparecer, e muitos bons assessores de imprensa ficam enlouquecidos com esses espertalhões.
Aprofundar-se em qualquer assunto é missão de uma vida. No mundo do vinho que muda safra a safra, pior ainda. Ninguém é capaz de conhecer tudo.
Na maioria das vezes, quem advoga para si ser um profundo conhecedor, ter bebido todas as safras e lembrar-se de cada uma com suas nuances, sabores, produtor e sobrenome do rapaz que carregava as caixas das uvas, pode ter uma memória de elefante, mas deve ter também a simpatia de uma hiena e o charme de um urubu.
Tenho amigos advindos do vinho, felizmente, mas faço questão de tentar separar os mundos. "O que o vinho uniu, que a informação não separe".
Bons e honestos goles!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Duas interessantes leituras!

Com a devida autorização de meu colega jornalista e enófilo Marcos Pivetta, reproduzo a seguir a nota que ele deu em seu site nesta semana.
Muito bem redigida e importante, eu não quis adaptar por receio de não conseguir fazer melhor:


Desempenho desigual

Venda de espumante gaúcho aumenta 13% no ano passado, mas o setor dos vinhos nacionais não apresenta o mesmo dinamismo

Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br

08/02/2011
O Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) acaba de divulgar um balanço com os grandes números relativos à comercialização de vinho nacional no ano passado. Os espumantes gaúchos bateram recorde de consumo em 2010: 12,5 milhões de litros da bebida foram vendidos em 2010, um aumento de  cerca de 13% em relação a 2009. Se forem incluídos os vinhos borbulhantes elaborados no Nordeste e em Santa Catarina, a quantidade de espumante brasileiro vendida no ano passado passou dos 14,5 milhões de litros. Também a venda de suco de uva foi bem no ano passado: aumento 20% em relação a 2009 , atingindo um total de 36,7 mihões de litros.
Já os vinhos brasileiros como um todo, excluindo-se os espumantes, perderam mercado em 2010. A venda de todos os tipos de vinhos, comum e finos (feitos com uva viníferas), regrediu 3,3%,. No ano passado, foram comercializados 232 milhões de litros de vinho. Em 2009, o número chegou a 240 milhões de litros. A boa notícia (para o setor nacional) foi que a venda de vinho tinto fino cresceu 3,4% em 2010 e atingiu a marca de 13,48 milhões de litros comercializados.


Outra leitura que quero sugerir é a do blog de minha ex-aluna do curso de sommelier do SENAC, Laura Aria. Recém-formada em Gastronomia também, ela ainda nos brinda com as incertezas da juventude de quem tenta entrar no mercado de trabalho, e de quem vê a vida ora como bênção e hora como praga. Delicioso de ler.
Laura querida, talvez sua vocação seja o jornalismo gastronômico. Minha única tristeza ao lhe dizer isso é que seus ganhos não irão melhorar muito...



quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Um Convite Inesperado!

Vejam só que simpático esse convite que recebi ontem da vinícola Dal Pizzol em Faria Lemos (distrito de Bento Gonçalves), através de sua assessoria de imprensa, a Conceito Comunicacão.
Claro que vou largar tudo o que estou fazendo (bem, vou ter que terminar algumas coisas antes) e me jogar no vôo para Caxias do Sul da próxima 6a feira, pois faço absoluta questão de estar lá.

Com quase 36 anos, a Dal Pizzol (que na verdade chama-se Vinícola Monte Lemos) é a única que tem um Parque Temático (foto acima) dedicado ao vinho e sua preparação. Em um ambiente muito acolhedor e informal, reúne um museu de vinificação, loja, enoteca (foto abaixo), restaurante, lago e muitos animais soltos, que fazem a alegria das crianças que visitam o local.

Mas a empresa tem dois grande diferenciais, um deles os donos e os enólogos, Rinaldo e Antonio Dal Pizzol que fazem parte da história viva da transformação da vitivinicultura brasileira, e não há como falar do que era e do que se transformou o vinho nacional sem conversar com eles.
Os enólogos, em especial Dirceu Scottá - o diretor técnico - são rigorosos e atentos, com um olho na vinha e outro na produção, para  que o mercado receba produtos bem acabados, bons de degustar e com preços competitivos.
Na foto abaixo, à esquerda Antonio Dal Pizzol e à direita Dirceu Scottá.

O outro grande diferencial é o Vinhedo do Mundo, uma área muito particular que reúne videiras do mundo todo, viníferas ou não, e até mesmo as que não produzem uvas comestíveis, como a asiática que aparece na foto abaixo, cheia de espinhos.
Essa colheita simbólica promovida em um vinhedo tão especial, deverá ser bem diferente e prometo contar detalhes assim que voltar.

Pela primeira vez vou me hospedar no hotel Villa Michelon, no Vale dos Vinhedos e vou poder conferir de perto o rigoroso trabalho que faz Moysés Michelon, o proprietário que é extremamente envolvido em todos os projetos da comunidade. Tenho certeza de que vai ser uma bela estadia.
Aos leitores desejo que abram uma garrafa de um frecso vinho branco, para celebrar este fevereiro que passa célere. Bons goles!



segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Harmonia no Vale dos Vinhedos

Com esse lindo por-do-sol os 68 participantes do Jantar Harmonizado da Casa de Madeira foram recebidos na semana passada no Vale dos Vinhedos.
Para quem não sabe, o jantar foi uma parceria entre a Secretaria de Turismo do município, a Casa de Madeira (bistrô que pertence ao grupo Casa Valduga) e a revista ADEGA, com o intuito de harmonizar os vinhos produzidos nos diferentes distritos de Bento Gonçalves e complementar a palestra que tinha sido proferida no dia anterior. Cada cliente pagou 50 reais por um jantar de cinco pratos e cinco vinhos.
Como eventos desse tipo são mais uma orquestra do que um solo, é preciso dar o devido valor à equipe da Valduga e da Casa de Madeira. Fabiano, gerente de Marketing da Valduga, que não somente é um homem de negócios mas também um homem de tremendo bom gosto, discutiu comigo os pratos que poderiam ser servidos, as necessidades de equipe de serviço e toda espécie de detalhes que, felizmente, os clientes nunca ficam sabendo, mas são o diferencial de um grande evento. Graças ao empenho dele, tudo deu certo.
Madeleine e Gertrudes, da Casa de Madeira (junto com a equipe que reuniram e da qual infelizmente eu não sei todos os nomes), puseram em marcha um evento que não costumam fazer e ainda assim trabalharam com alegria e bom humor, além de competência.
Uma equipe de cinco garçons foi de uma eficiência muito acima da média, até para os padrões de São Paulo, e não se incomodaram em nada por receber ordens de uma mulher que haviam acabado de conhecer, eu.
João Valduga abriu as portas de sua casa para um evento diferente e, principalmente, para os vinhos dos outros produtores. Esse tipo de comportamento me faz perceber que algumas coisas estão, aos poucos, mudando na Serra Gaúcha. Os vinicultores nem piscaram para mandar seus grandes vinhos e fizeram mais: os que puderam compareceram ao evento.
Na foto abaixo, Fabiano ao lado da esposa e de João Valduga, brindando com o espumante 130, o brut que não é a prata da casa, mas sim o ouro!


Quando a gente decide fazer um jantar harmonizado, seja uma pizza com os amigos em casa, seja em um restaurante com um cardápio grande ou até mesmo para uma aula, precisamos levar uma porção de coisas em consideração. Coisas que são muito mais parte do trabalho de um sommelier e de um chef de cozinha do que de um produtor de vinhos ou de um dono de restaurante.
O cliente, que em geral pagou um preço fechado por aquele evento, precisa ser provocado, precisa ser conduzido, precisa ser desafiado, mas principalmente, precisa sentir que valeu a pena. Então, equilibrar 68 paladares diferentes com um só cardápio não é coisa fácil, no sul ainda, é bem mais complicado.
Há um fundo de crítica aqui? Não, há uma percepção que levou tempo para ser confirmada. O gaúcho da Serra é uma pessoa que come em casa praticamente todos os dias. Come bem, tem mesa farta e copo cheio. Assim, por que ele vai sair de casa, gastar dinheiro e comer pouco?
Aqui em SP temos uma ligeira distorção, estamos tão acostumados a comer fora de casa (pode ser bem ou mal, muitas vezes apenas por necessidade), que perdemos um pouco a noção do valor que devemos dispender para uma boa refeição. Se ela incluir vinho então, daí o céu é o limite, como se diz.
Assim, meu objetivo com o jantar harmonizado era oferecer, ao mesmo tempo, uma refeição que 'valesse a pena', aproveitando o que a Serra tem de melhor, e que expandisse os horizontes dos comensais, para novas combinações de alimentos e bebidas.
Numa metáfora culinária: 'nada de viajar na maionese', mas sim de fazer 'quase' o mesmo, um pouco diferente, um pouco mais orientado.
Acho que deu certo. Para quem não soube, o cardápio servido está abaixo.

Cada vez que um dos pratos foi servido, assim como os vinhos, fazíamos uma pequena parada, explicávamos os componentes do prato e o estilo do vinho (duas vezes para cada prato, pois a Casa de Madeira tem dois andares e as pessoas se dividiram), incitando as pessoas a buscarem os aromas, os sabores e suas diversas possibilidades.
Foram mais de 3h de serviço, mais de 70 garrafas de vinhos e espumantes vertidos e uma certeza, a de que um evento como esse, com a tranquilidade com a qual transcorreu e a satisfação dos participantes, seria muito, mas MUITO mais difícil de fazer em SP. Sem contar que não sairia por menos de 200 reais por  cabeça.
Tomara que as vinícolas da Serra tomem gosto por esse tipo de evento e passem a fazê-lo com maior frequência, afinal nenhum outro lugar tem tantos bons recursos à disposição para isso.
Na última foto, a polenta mole com codorna de cozimento super lento, que foi acompanhada do delicioso Valmarino Cabernet Franc 2008, XIII geração, uma combinação realmente especial.






sábado, 5 de fevereiro de 2011

Uma nova Aurora

As fotos abaixo são da Cooperativa Vinícola Aurora que você, provavelmente, conhece e já visitou em Bento Gonçalves (e se não visitou, que vergonha!).

O corredor dos tanques antigos de madeira (primeira foto acima) com as bandeiras de vários países e o corredor de teto baixo, que conduz o visitante entre um prédio e outro da empresa, passando sob a rua.

Mas as fotos a seguir talvez não sejam do conhecimento de todos, pois fazem parte de um processo de modernização da empresa:
Prensa pneumática moderna (acima), absolutamente selada, com funcionamento e programação totalmente controlados por computador. São duas delas na área de recepção de uvas.

Tanques de aço inoxidável com cintas de controle de temperatura, recém chegados na área que está sendo aberta na empresa, para ampliar a produção de vinhos brancos de base para espumantes. Não faz um mês ainda que estão instalados.

Linda e moderna área para degustações e cursos, com luz preparada especialmente para quem vai analisar vinhos. No piso, "janelas" de vidro mostram as barricas de madeira que repousam abaixo da sala.
Mais um delicado trabalho da arquiteta gaúcha Vanja Hertcert, da qual já falei aqui. O rosto que aparece ao fundo da foto é da Gerente de Marketing da vinícola, Lourdes Conci, que recebeu a mim e ao meu chefe no meio da tarde de sábado, interrompendo seu final de semana.

Preparando os vinhos para a degustação está o enólogo André Peres Jr, mais uma prata da casa. Fiquei imensamente feliz ao saber que seria esse goiano simpático (agora um pouco mais gaúcho, uma vez que a esposa é gaúcha e também enóloga) iria nos receber e degustar conosco. Muito jovem, André começou na Aurora estagiando, quando fazia o curso de enologia. Logo foi contratado e hoje é responsável por uma das linhas da cooperativa, trabalhando lado a lado com enólogos famosos como seu próprio chefe, Nauro Morbini.
É importante lembrar que da Aurora saíram nomes como Lucindo Copat (da Salton) e Christian Bernardi (atual presidente da Associação Brasileira de Enologia e enólogo chefe da Winepark).
Uma celebração
Notem a garrafa sem rótulo que aparece na frente de André. É um vinho muito especial com data ainda indefinida de lançamento (mas vai ser este ano). É o vinho que celebra os 80 anos da Cooperativa Vitivinícola Aurora. Um corte não revelado mas já bastante interessante. Isso é tudo que posso falar sobre ele até agora, o restante é segredo.
A Aurora, como toda empresa grande seja de qual segmento for, já viu altos e baixos. Com uma história assim tão longa é natural que eles tenham sido frequentes.

Eu já estava no mundo do vinho quando o pior deles se abateu, e ainda me lembro. No final da década de 1980 a crise veio forte e os primeiros anos de 1990 viram quase o fechamento da Cooperativa.
Felizmente para todos os consumidores, e para a própria indústria do vinho como um todo, a empresa conseguiu superar essa fase muito negra, de uvas podres mesmo e hoje as novas gerações de trabalhadores e consumidores só sabem disso quando a história é contada.
Que bom!
A Aurora é das grandes, em produção, em vendas, em volume. E uma enormidade de consumidores só conhece vinhos brasileiros que levam sua marca, seja em vinhos de mesa (como o Sangue de Boi), ou nos vinhos finos de sua linha básica, como o Saint German e a intermediária Marcus James (que eu vi para vender na Selfridge's de Londres em 1995, quando ninguém falava que se vendia vinho brasileiro no exterior).
Mas que ninguém se engane pensando que a Aurora é só isso (como se isso fosse pouco...). Eles tem uma importantíssima linha de espumantes, vinhos finos diferenciados da linha Pequenas Partilhas e da linha Reserva, além de um vinho super especial, feito em anos diferenciados, que é o Milesime. Eu nunca me esqueci de duas safras dele, bem no meio da crise: 1989 e 1991. Grandes vinhos, realmente grandes.
Para mim, a grande novidade além dos novos equipamentos e da sala de degustação são os planos que estão sendo postos em marcha para que a vinícola produza seu primeiro espumante no método tradicional, provavelmente ainda neste ano, na região de Pinto Bandeira, onde fica o Centro Tecnológico da vinícola, certamente um produto a ser esperado com muita curiosidade. (Na foto abaixo o mirante do lago do CT, com um grupo de jornalistas recebidos lá em 2009 para um delicioso churrasco).

Só tenho a agradecer tanto à Norma e a Débora, da Eco Comunicação, que deram um 'nó em pingo d'água' para conseguirmos adequar a visita à nossa apertada agenda no sul e à Lourdes e ao André pela recepção deliciosa na vinícola.
Parabéns Aurora pelos seus 80 anos!



quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Viapiana - Flores da Cunha

Muitas vinícolas têm um toque feminino hoje em dia, então, entrar em uma onde tudo é masculino é até engraçado.
Engraçado no seguinte sentido: quando comecei a participar de degustações profissionalmente - isso em 1994/1995 - esse era um mundo completamente masculino. Várias vezes eu fui a única mulher em salas com 20/25 homens bem mais velhos. Muitos deles na ativa ainda hoje.
Mas isso mudou muito. Claro que não chegamos ao ponto de termos 50% do espaço, e nem chegaremos por motivos que não cabe discutir aqui, mas somos muitas mulheres, jornalistas do vinho, sommeliers, editoras de revistas especializadas, enólogas etc.
O Chile, por exemplo, tem uma dúzia de vinícolas chefiadas por enólogas, que fazem um grande trabalho e recebem o devido reconhecimento por isso, e aqui no país também temos um bom contingente de enólogas em várias vinícolas.
Assim, entrar em uma vinícola eminentemente masculina foi um sensação engraçada, para dizer o mínimo. Atentem que esta não é uma postagem sexista, é simplesmente uma constatação.
Vejam a foto abaixo:

Da esquerda para a direita estão Gervásio Viapiana, o patriarca que fundou a vinícola com seu irmão Antonio (que não está na foto), Elton Viapiana, o enólogo chefe (filho de Antonio) e Eumar Viapiana, Diretor Financeiro e um 'quase' engenheiro químico, como ele mesmo diz, filho de Gervásio. "Os homens que cheiram vinho", como brinca o jornalista Beto Gerosa.
Na outra foto estamos (da direita para a esquerda), eu, César Viapiana (neto de Gervásio), que é o Diretor de Marketing e Comercial da vinícola e Janquiel Mesturini, assessor de imprensa.


Apresentações feitas, vamos ao que interessa. A Viapiana completa 25 anos de fundação este ano. Situada em Flores da Cunha, a capital política do vinho no Brasil, tem uma linda estrutura física, recém-terminada, com loja elegante (aí sim há uma mulher), bar de vinhos, uma sala de degustação super moderna e uma sala de jantar com cozinha profissional de cair o queixo. Fora os vinhos, vinhos que precisamos conhecer melhor.
O espumante brut caiu tão refrescante e saboroso na manhã super quente da última sexta-feira, que não me furtei de provar uma segunda taça. Brancos diferenciados, como um Sauvignon Blanc muito bem feito e tintos em vários estilos, inclusive um blend de safra e uvas não reveladas (o que estamos brindando na foto acima, o Gerant (Gervásio e Antonio, claro).

Um detalhe, descobri que a família Viapiana imigrou da mesma cidade da Itália de onde vieram meus ancestrais, Mantova. Tutti buona gente!
Na foto abaixo uma constatação que nem vou comentar: colocação manual do selo de controle fiscal. Cola branca, pincel e muita paciência...


E para completar o passeio, que teve direito a um almoço delicioso em um restaurante da tranquila Flores da Cunha, uma foto do novo vinhedo de Pinot Noir da vinícola, de onde talvez resulte em uns 3 anos, um vinho muito especial. Esse vinhedo, a propósito, é o xodó do fundador (que tem quase 80 anos), que passa boa parte do dia cuidando dele, mesmo sob o sol inclemente.
Homens fortes, determinados, trabalhadores, que fazem uma vitivinicultura séria. Um prazer conhecê-los!


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Um Passeio

Chegar a Bento Gonçalves é sempre um prazer!
Como o vôo saindo de Congonhas só atrasou 30 minutos, as coisas não escaparam tanto do previsto para a chegada ao sul na última 5a feira.
A hospedagem no tradicional hotel Dall'Onder é sempre bem vinda, pois tudo funciona à contento, o quarto é grande e bom e o local é de fácil acesso.
Muito calor, em temperatura quase igual a SP, mas como a umidade é maior, a sensação térmica pode ser bastante desagradável.


O primeiro compromisso era muito informal, com Carlos Paviani e Gabriela Poletto do Ibravin numa rápida visita à sede (foto acima) que eu não conhecia. É uma bela casa de imigrantes, reformada, climatizada e com excelente estrutura, localizada dentro do parque de eventos da cidade.
Fomos almoçar no Manjericão, um gostoso espaço com culinária diferenciada do que é típico da região.
Feliz pelo ar condicionado poderoso, pude aproveitar o almoço e a agradável companhia de Gabriela, que me fez a gentileza de providenciar 'vinho doce' para eu provar.
Vinho doce é comum em todos os países produtores. É, na verdade, um suco de uva não pasteurizado em estado de pré-fermentação. Muito divertido, e apesar do nome 'vinho' não contêm álcool.
Às 15h meu compromisso mudava de cenário, de companhia e de temperatura. A chuvarada quente da hora do almoço foi seguida por um céu azul, temperatura mais alta e muita umidade.
Foi assim que conheci a jovem enóloga Bruna Cristófoli, da vinícola familiar que leva seu sobrenome.
Ela me levou para Faria Lemos, distrito de Bento Gonçalves que abriga a rota das Cantinas Históricas, com nomes poderosos como a Dal Pizzol e a Estrelas do Brasil.
Fizemos uma parada na propriedade do enólogo Irineo Dall'Agnol, que não estava no local, mas seu simpático cão preto nos acompanhou em todo o passeio, alegremente indicando o caminho.
A paisagem foi, para mim, uma surpresa imensa e sinto-me compelida a dizer que é a mais bonita de toda a região (foto abaixo).

Olhando essa colcha de retalhos formada por vinhedos no Vale Aurora, imagino que cada dia mais nos aproximamos do trabalho que é feito em países com história vitícola muito mais antiga do que a nossa.
Caminhamos pela propriedade observando as uvas de mesa (foto) e as uvas finas, em diferentes estágios de maturação, sentindo o aroma das frutas se espalhando pelo ar.


Saindo desse paraíso natural, seguimos para a pequena vinícola de Bruna, com seu varejo e sala de degustação cuidadosamente reformados e decorado por uma arquiteta de muito bom gosto.
O espaço é o tradicional porão das casas dos imigrantes, tão comum por aqui, mas quando as portas se abrem, o interior é surpreendente. A mãe de Bruna prepara jantares especiais para grupos nesse espaço, onde são degustados os três vinhos que ela produz, Cabernet Sauvignon, Merlot e o meu preferido, Sangiovese.


Bruna é uma moça de vivacidade contagiante. Ainda não tem 25 anos e já terminou uma pós-graduação em vitivinicultura e um longo estágio em vinícolas na Alemanha, onde ficou três meses em laboratórios, colheita e produção de vinhos brancos, que ela tem se dedicado a entender para poder reproduzir por aqui.
A vinícola da família é tradicional em vinhos de mesa e grasppa (uma parente da Grappa italiana, mas feita muitas vezes com uvas de mesa), e Bruna se encarregou de empurrar a empresa até o vinhos finos.
Interessada, antenada com tendências e preocupada com a qualidade e a veracidade do que produz, ela cultiva o sonho de ter bons vinhos orgânicos lá no sul, talvez na direção da fronteira com o Uruguai.
Reparto com ela o gosto pela Sangiovese e entendo perfeitamente quando ela diz que deseja ter esse vinho com mais estrutura e corpo, coisa que passa necessariamente por uma nova seleção de clones de plantas e um imenso cuidado com o vinhedo.
Vimos juntas a chuva chegar novamente, enquanto conversávamos e degustávamos na agradável sala. Depois fomos caminhar um pouco e ela me mostrou o vinhedo onde recebe as pessoas para o 'Edredon no Parreiral', um evento muito particular onde casais e pequenos grupos fazem um piquenique chique, sobre um edredon e almofadões, na sombra do parreiral, com jazz ao fundo e muita tranquilidade e mordomia.
Voltei com ela para Bento Gonçalves a tempo de me preparar para um agradável jantar com o novo presidente da Aprovale, Rogério Valduga, e sua esposa no Canta Maria, acompanhada de meu chefe.
Um dia longo, produtivo e muito agradável.
Amanhã tem mais!
A foto abaixo é, acreditem, da 'casa de bagunças' da Vinícola Cristofoli!