Colheita 2016

Colheita 2016
Seja bem-vindo! E que nunca nos falte o pão, o vinho e a saúde e alegria para compartilhar!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Uma degustação rara!

O sommelier Vinícius Santiago, que é mezzo paulistano mezzo gaúcho, me contou sobre uma degustação raríssima da qual participou nos últimos dias lá em Caxias do Sul.
Fiquei tão interessada que pedi para ele me escrever sobre o assunto para eu poder colocar aqui.
O texto (com fotos e tudo!) está abaixo.
Adorei! Só poderia apreciar mais se tivesse estado presente nesse momento raro.
Detalhe: até onde sei nenhuma daquelas pessoas sequer trabalhou para a extinta Bacardi-Martini, mas isso mostra como o vinho brasileiro vem sendo levado a sério pelas pessoas envolvidas no meio. Degustar, conhecer e estudar, tudo isso faz parte do crescimento de nossa indústria.
Vinícius, muito obrigado meu amigo!


"Era domingo, início da tarde e eu viajando de Canela para Porto Alegre. Mecanicamente pego o celular para dar uma olhada no twitter e vejo que o pessoal do @vinhosdobrasil está preparando uma degustação de vinhos Baron de Lantier, de 92 a 97. Eno-gerontófilo assumido que sou, mais que depressa telefonei para o Orestes, assessor de imprensa do Ibravin, pra ver se ele sabia de alguma coisa e, mais do que isso, me incluir na degustação. Ele atende ao telefone e, para o meu desgosto, não sabia de nada. Falou que isso era coisa do Maurício Roloff, jornalista responsável pelas mídias digitais dos Vinhos do Brasil, mas que no dia seguinte iria conversar com o pessoal do Ibravin e me daria um retorno.
Na segunda-feira à tarde, recebo uma ligação do Orestes, confirmando a minha presença na degustação que aconteceria no Restaurante Per Manggiare em Caxias do Sul e, mais do que isso, teria carona garantida com o gerente de marketing do Ibravin, Diego Bertolini. Tudo acertado, na terça-feira, 28 de junho, às 18h encontrei-me com o Diego e com o Maurício para irmos à Caxias. A expectativa dos três era imensa, assim como o receio de que os vinhos estivessem mortos, ou pior, decrépitos.
Chegando ao Per Manggiare, encontramos o organizador da degustação, o sommelier Arlindo Menoncin e o proprietário do restaurante e dos vinhos, Afonso Golin, enófilo e ex-presidente da SBAV-Caxias do Sul. Também estavam presentes: o jornalista Irineu Guarnier Filho, apresentador do programa “E por falar em vinhos” do Canal Rural; a jornalista Andreia Debon, do jornal O Florense e da revista Bon Vivant; o sommelier César Curra, da vinícola Viapiana, de Flores da Cunha.

Os vinhos foram abertos do mais antigo para o mais jovem, aumentando assim a chance de boas surpresas. Todos eles foram devidamente decantados, para evitar possíveis borras. A primeira (boa) impressão veio das rolhas. Com exceção da amostra 95 que quebrou, nenhuma apresentou falhas ou vazamentos. Abaixo, a descrição resumida de cada amostra:

1.     BARON DE LANTIER – CABERNET SAUVIGNON – VINDIMA 1992 – 11,5%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Límpido e brilhante, com coloração atijolada. Boa intensidade de cor.
O: Volátil, com algo a frutas vermelhas em compota e uvas passa. Notas de oxidação e vinagre balsâmico.
P: Grande acidez e vivacidade, com taninos ainda presentes. Seus aromas evocam vinho do porto tawny, mas muito magro. Pouco persistente.
Vinho velho, cansado de guerra, mostrando seu último suspiro. Seus aromas volatilizaram rapidamente, deixando apenas a imagem do que foi um dia.

2.     BARON DE LANTIER – CABERNET SAUVIGNON – VINDIMA 1993 – 11%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Límpido e brilhante, com coloração atijolada. Boa intensidade de cor.
O: Resinoso e algo herbáceo, com notas de nozes e castanhas. Depois de um tempo na taça, apresentou notas de açúcar queimado.
P: Boa intensidade de boca, com taninos presentes e acidez média. Apresentou notas de madeira e nozes no paladar, com persistência média-baixa.
Mostrou-se melhor no nariz do que em boca, com bom volume e melhor persistência que a amostra anterior. Vinho velho, com algo a dizer.

3.     BARON DE LANTIER – CABERNET SAUVIGNON – VINDIMA 1994 – 11,4%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Límpido e brilhante, com coloração atijolada. Boa intensidade de cor.
O: De início, notas de redução que, com a oxigenação, foram se transformando em passas, couro, resina, balsâmico, champignons e notas defumadas. Boa intensidade.
P: Excelente acidez e boa adstringência, com taninos sedosos. Boa intensidade de boca, com notas de resina e kirsch. Persistência média.
Apresentou grande equilíbrio e boa complexidade do início ao fim da degustação. Foi o destaque da noite. Um senhor de idade, sem muito pela frente, mas de riqueza evidente.

4.     BARON DE LANTIER – CABERNET SAUVIGNON – VINDIMA 1995 – 11%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Turvo, com partículas em suspensão. Alaranjado.
O: Notas adocicadas evocando mel. Algo terroso e herbáceo, com resina, erva seca e notas tostadas.
P: Boa acidez e taninos presentes, com algo a fruta na boca. Curto e mais discreto que o anterior.
Vinho curto, pouco expressivo. Não chegava a ser desagradável, mas era básico. Um vinho velho.

5.     BARON DE LANTIER – CABERNET SAUVIGNON – VINDIMA 1996 – 11,2%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Alaranjado, limpo e brilhante.
O: Xaroposo, apresentando iodo e frutas em calda. Notas de maçã cozida.
P: Boa acidez e adstringência intensa. Ataque intenso, mas curto no fim de boca.
Outro vinho curto e pouco complexo. Ótimo ataque, mas decepcionante no final. Outro vinho velho.

6.     BARON DE LANTIER – CABERNET SAUVIGNON – VINDIMA 1997 – 11,4%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Opaco, de coloração alaranjada e com pouca intensidade.
O: Boa intensidade aromática, com frutas vermelhas (cerejas, groselhas).
P: Boca grande, com bom frescor e taninos não plenamente fundidos. Apresentou notas de kirsch e cerejas em calda no fim de boca. Persistência média.
Impressionou pela potência, apesar da idade. Boa fruta no nariz e no fim de boca, sendo o segundo vinho mais agradável da noite. Outro senhor de idade, com menos riqueza que o 94, mas com boas histórias pra contar.
Alguns fatos chamaram a atenção de todos durante a degustação como o baixo teor alcoólico dos vinhos, a boa acidez e taninos ainda presentes. Todos os vinhos eram velhos, mas nenhum se mostrou senil ou morto. A degustação foi um testemunho do poder de guarda dos vinhos brasileiros, mesmo antes das grandes mudanças que ocorreram na virada do século. Mostra também a vocação que a Serra Gaúcha possui para a elaboração de vinhos gastronômicos, com teor alcoólico não muito elevado e boa acidez.
Após a degustação, o grupo foi convidado a jantar no Restaurante Per Manggiare, mas esse é assunto para outra conversa. Agradeço ao Afonso pela generosidade imensa em ceder os vinhos e proporcionar um jantar delicioso. Ao sommelier Arlindo Menoncin pela organização e perfeita condução da degustação. E ao Ibravin pelo convite para participar desse momento memorável.






terça-feira, 28 de junho de 2011

Reflexão...


segunda-feira, 27 de junho de 2011

O Bastão! O Bastão!

Como diz o nordestino, 'hoje estou esparramada', no sentido de que a cabeça está pensando tantas coisas ao mesmo tempo que a bem da verdade eu nem deveria estar escrevendo esta postagem.
Mas em meio a muitas entrevistas, matérias escritas e em processo, degustações e 'otras cositas más', tive que parar para reproduzir aqui uma página que encontrei na internet (tem de 'um tudo' na internet).


Estou fazendo uma matéria sobre fondue e sua harmonização com vinho. Mas em meio a pesquisas muito sérias sobre a origem desse prato, sobre o vinho que tradicionalmente o acompanha (para os curiosos é um vinho branco suiço da uva Fendant, outro nome da francesa Chasselas) e sobre as possíveis combinações, minha cabeça 'espalhada' ficava me levando de volta a uma das histórias de Asterix e Obelix que li e reli não sei quantas vezes.
"Asterix entre os Helvéticos" é uma delícia, pois coloca frente a frente três culturas muito distintas, os romanos invasores e cheios de costumes pagãos, os helvéticos (no livro já descritos como limpinhos e certinhos) e os gauleses, amantes da boa vida e da justiça. Tudo isso bem harmonizado com doses enormes de cerveja e de fondue de queijo.
Pois não é que achei na internet uma das páginas do livro (ô mãe! vê se não joga essa coleção fora hein!) e é por isso que parei tudo para colocá-la aqui. 
No livro, a 'festinha' que os romanos organizavam incluia alguns castigos para quem derrubasse o pedaço de pão no caldeirão de queijo derretido: porretadas, chibatadas e depois ser atirado no lago com um peso nos pés. Claro que como tudo o mais que a dupla Uderzo e Goscinny desenhava e escrevia tinha um fundo de verdade e de crítica social, a brincadeira bem poderia ser coisa séria, e em meio a tudo isso acabei descobrindo que nos cantões da Suiça quem derruba o pão na panela de fondue é 'convidado' a dar uma volta do lado de fora do chalé, na neve e descalço.
Caramba, será que o fondue de queijo vale todo esse sofrimento? Para mim apenas o vinho, por favor!
Por Tutatis, tenham uma boa semana!



sexta-feira, 24 de junho de 2011

Um brinde aos amigos do blog!


Quando comecei a escrever este blog eu não tinha muitas expectativas ou ideias de como isto ia ser. Francamente, acho que só quem tem blogs com o objetivo de ganhar dinheiro é que tem expectativas mais concretas.
Assim, mais de um ano depois, vejo que o comprometimento é essencial, a informação correta e honesta também, mas o surpreendente é a contrapartida: as pessoas simplesmente aparecem, ficam sabendo, comentam, manifestam-se, polemizam.
Para uma pessoa formada em Comunicação Social como eu, isto é um dos melhores exercícios e resultados do que a comunicação humana é capaz.
E como cereja do bolo ainda temos os amigos que acabamos fazendo mesmo sem perceber. A primeira foi a Caren Muraro (que hoje sei que é dona de vinícola em Flores da Cunha, entre tantas outras atividades) cujos comentários nos aproximaram - não fisicamente pois ainda não tivemos oportunidade de nos conhecer - e agora o Zezé Castro, cujos comentários sempre oportunos e bem humorados me fizeram (ai a curiosidade do jornalista!) querer saber mais.
Assim, pedi que ele me enviasse algumas fotos de uma de suas profissões (até onde sei ele tem mais de uma) e hoje são elas que ilustram esta postagem.
Ele é um dos donos de uma casa chamada "Peña del Sur" na cidade gaúcha de Montenegro, onde preparam carnes na parrilla, na melhor tradição pampeira. O link para o site do restaurante está aqui: http://www.penadelsur.com.br/Home
Mas o legal é que, apesar da cidade ter uma comunidade alemã forte (apreciadora de cerveja), Zezé vem fazendo um trabalho sério com os vinhos brasileiros - apesar de continuar trabalhando com os estrangeiros, pois convenhamos que uma boa carne com um Malbec argentino não é coisa a se desprezar - e discutindo seriamente a falta de conhecimento de nosso povo consumidor e mesmo de quem comercializa, de forma a conseguir uma maneira de integrar consumidor e produto que seja melhor para todos.
Abaixo, algumas imagens que ele fez especialmente para o blog. Eu também não o conheço pessoalmente, mas ele me disse que na foto abaixo é o de jaleco branco, à direita.





Agora aproveito para fazer o pedido 'em público' para que a Caren mande fotos de sua vinícola/loja, para que eu possa publicar aqui também (por favor Caren!).
Zezé Castro, até onde sei, está em Mendoza, visitando um amigo brasileiro, um jovem enólogo que se forma este ano e já vem fazendo os vinhos de sua família, na vinícola Don Guerino em Caxias do Sul (um lindo projeto, sobre o qual já tive oportunidade de falar aqui).
Alguns outros amigos deste blog nem sempre aparecem nos comentários, pois escrevem para meu email e assim eu entendo que querem que seus comentários sejam preservados, e outros ainda dizem quando me encontram que lêem toda semana. Confesso que não deixo de ficar impressionada com esses leitores que me cativam e impulsionam.
Na verdade, as coisas são simples assim, você se dispõe a escrever e as pessoas se dispõe a ler, se tudo der certo, nos encontramos no meio do caminho, com uma boa taça de vinho.
Um brinde aos amigos!
Bom final de semana para todos.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Vinho(Quente)VerdeAmarelo



Dizem que o grão não cai longe do cacho (essa é a versão viticultora do 'fruto que não cai longe da árvore'), certo?
No último domingo foi a festa junina da escola de minha afilhada, que embora não seja 'sangue do meu sangue', é como se fosse. A festa aconteceu em uma chácara muito bem equipada e espaçosa, na cidade de Itupeva, 70km distante de São Paulo.

Qual não foi minha surpresa, quando as crianças da turma dela começaram a dançar com música gaúcha e com uma coreografia muito parecida com as que vemos nas festas típicas do CTG lá no sul (CTG é Centro de Tradições Gaúchas), onde a gurizada (os 'piás') aprendem as danças regionais dos povos antigos.



Claro que não faltou também a dança das fitas, um estilo que existe desde a Idade Média, e que recebemos dos povos europeus que nos colonizaram.


Como boa festa de interior (os colonos do sul são conhecidos, aqui, como os nossos caipiras), tivemos todos os produtos do milho, desde a espiga cozida, pipoca, passando pelo curau e depois pelo bolo de milho, paçoca doce, canjica, algodão-doce, amendoim, pinhão cozido, vinho quente e quentão (aqui uma diferença da gauchada: para eles o quentão é o vinho quente, e para nós vinho quente é vinho aromatizado e fervido, com maçãs, canela, cravo e o quentão é a bebida à base de cachaça, gengibre, açúcar, limão, cravo e canela).
Mas como somos paulistas, ninguém escapou de cachorro-quente, espetinhos de carne, frango e linguiça, um pouco de feijoada (!!), salada de folhas, de beterraba, tomate e berinjela, além de mandicoca e polenta fritas e mais churrasco na brasa...ufa!




Claro que como fazia mais de 26 graus, em uma festa ao ar livre, era quase impossível tomar outra coisa que não fosse água, chopp e suco. Até mesmo o quentão foi bebido apenas para 'honrar' as tradições. Vinho, nem pensar.
E olha que a região de Jundiaí é famosa por seus vinhos de mesa (de uvas americanas ou híbridas) e tem até um roteiro para turistas com cantinas, restaurantes e vinhedos.
De certa maneira fico feliz por esses vinhos não estarem por lá (risos), pois era capaz de alguém me fazer tomar e eu iria ficar sem jeito de recusar...
Eu, que não sou muito de festas juninas (pois aqui em SP isso está muito depauperado), tenho o maior gosto em ir nessa. Bonita, bem organizada, variada e segura. Uma diversão para todos na família.
Para finalizar, alguém sabe 'mesmo' a letra da música do casamento caipira? Se não sabem, está abaixo!

PEDRO, ANTÔNIO E JOÃO
autor: Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago

Com a filha de João
Antônio ia se casar,
mas Pedro fugiu com a noiva
na hora de ir pro altar.

A fogueira está queimando,
o balão está subindo,
Antônio estava chorando
e Pedro estava fugindo.

E no fim dessa história,
ao apagar-se a fogueira,
João consolava Antônio,
que caiu na bebedeira.





terça-feira, 21 de junho de 2011

A Vinexpo e o Complexo de Inferioridade dos Brazucas



Felizmente sei que a enormidade dos leitores deste blog não sofre de complexo de inferioridade.
Mas sei que alguns que chegam até aqui ainda são daquele tempo em que a maioria dos vinhos brasileiros era como loteria: você poderia dar sorte de beber alguma coisa decente, mas na maioria das vezes era apostar e se decepcionar.
Como as pessoas tendem a guardar as tristezas mais do que as alegrias (caramba, que burrice não? talvez seja instinto de sobrevivência, sei lá), muita gente que bebeu vinho brasileiro na década de 1970, 1980 nunca mais quis beber, e continua achando que porque era ruim há 30 anos, ainda é ruim hoje.
Para piorar, uma parte desse pessoal - quando a abertura econômica permitiu que os vinhos estrangeiros entrassem no país com preços competitivos - começou a beber só vinhos estrangeiros e se sentiu 'poderosa' assim, fazendo parte do 'mundo', podendo beber o mesmo que franceses e espanhóis sem nunca ao menos ter posto o pé no Paraguai, que seja (embora com certeza se compram vinhos importados por menos de 15 reais estejam tomando vinhos italianos 'made in Assunción').
"Carnaval  tudo bem, feijoada tudo bem, caipirinha tudo bem, mas vinho brazuca jamais, é coisa de pobre", já ouviram isso não?
Por favor, nada contra vinhos estrangeiros e TUDO a favor da diversidade, mas dizer hoje (em 2011) que não prova vinho brasileiro porque é ruim, daí não é mais problema de globalização, é de ignorância mesmo.
E como muitas dessas pessoas só se convencem quando são expostas aos estímulos externos (e do exterior), o Brasil (que ganha medalhas em vinhos muito mais do que no esporte - precisamos falar dos êxitos do futebol nacional? - em concursos internacionais a torto e a direito), repete sua participação na feira de vinhos mais importante do mundo, a Vinexpo, em Bordeaux.
Veja abaixo um trecho do release que a assessoria do Ibravin enviou.


"Estreantes na Vinexpo há dois anos, os jovens e vibrantes vinhos brasileiros voltam à feira em Bordeaux, na França, de domingo (19) até quinta-feira (23), com sólidos resultados alcançados no período e a perspectiva de aumentar em 90% suas exportações em 2011. Organizada pelo projeto Wines of Brasil, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), a participação brasileira na Vinexpo 2011 conta com sete vinícolas: Boscato, Casa Valduga, Lidio Carraro, Miolo, Pizzato, Salton e Vinibrasil.
Uma série de conquistas, obtidas desde que o Projeto Wines of Brasil participou pela primeira vez da mais famosa feira do setor, reforça a projeção, entre elas: um salto superior a 100% nas vendas para países estratégicos e 246% no valor médio do litro exportado, a crescente obtenção de prêmios internacionais, que hoje chegam mais de 2.350o reconhecimento de grandes especialistas e a inclusão dos rótulos brasileiros em alguns dos mais renomados restaurantes do mundo."



Para aqueles que ainda têm preconceito, sugiro um gasto de 12, 13 reais, com uma garrafa do Riesling da Almadén, um gasto de 15 reais com o Sangiovese da Cristófoli, ou talvez uma "exorbitância" de 30 reais com o Cabernet da Aracuri, ou com um espumante brut da Gran Legado, por exemplo. 
Isso sem falar em nossos excelentes espumantes da Valduga, Pizzato, Salton e nos vinhos de alta gama da Boscato, da Lidio Carraro, da Miolo e da Vinibrasil (nordeste gente, nordeste à toda!), todos esses  mencionados aqui acima que estão lá na França, servindo seus vinhos para gente que pode (e aprecia) beber produtos nacionais, mas que não tem tanto preconceito como muitos de nós.
Quem sabe depois dessa experiência o complexo de inferioridade brazuca comece a se transformar em um orgulho nacional por mais uma conquista da nossa indústria que - ao contrário do que essa gente pensa - não parou no tempo.
Bons goles!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ainda as enotecas...

Para ver como o assunto é sério, leiam o comentário do José, gaúcho da fronteira, dono de restaurante em Montenegro (pertinho do vale), na postagem de ontem.
Hoje mostro mais algumas enotecas, espaços dedicados às provas e a compra de vinhos de determinadas regiões (sim, pois a maioria desses espaços é precisamente para mostrar os vinhos de uma determinada região).
Na cidade medieval de Dozza, perto de Bologna, fica a 'Enoteca Regionale Emilia Romagna', localizada no subsolo do palácio Sforza. Um lugar espetacular, por fora e por dentro, que deixa boquiaberto qualquer turista.


Estive lá para uma apresentação sobre a região e uma breve degustação, de três vinhos, em uma espécie de bar de vinhos, ao lado da 'loja' - se é que se pode chamar aquilo de loja - pois o local como já disse, o subsolo de um castelo medieval, é uma joia arquitetônica, adaptada para ser um espaço dos mais de mil rótulos de vinhos da região. Todos os produtores fazem questão de estar lá, pois alguns têm vinícolas  muito pequenas e não possuem espaço para receber turistas.



Isso é uma coisa para se pensar, pois aqui no Brasil, muitas vezes, o produtor deveria estar investindo seus recursos para melhorar seus vinhos, mas está investindo em estrutura turística, para atrair gente. Aquele vinho ficará 'quase' bom em um belo lugar, mas provavelmente não terá o mesmo gosto quando a outra garrafa chegar em casa. E o cliente? Vai beber só a lembrança da beleza? Como diz Carlos Cabral, vender a primeira garrafa é fácil, difícil é vender a segunda.

A foto acima é uma cortesia de minha prima Ana Maria, feita na Provence em 2009.

Já na França, onde vinho é levado tão a sério que nem precisa ser coisa séria (é uma espécie de segunda pele nas pessoas), os espaços dedicados à prova (degustação) e venda de vinhos variam de acordo com o estilo da região.
Na Provence, onde o charme está no ar (não por acaso perfumado de lavanda, miguês e rosas), um dos lugares que é parada obrigatória é a Maison des Vins, na cidadezinha de Les-Arcs-sur-Argens. A vinoteca, como eles chamam por lá, é a vitrine dos vinhos da denominação de origem da Provence.
Para se ter uma ideia do profissionalismo desse espaço, a cada dia 16 a 20 vinhos deiferentes estão disponíveis para serem provados pelos visitantes. Os vinhos se alternam todos os dias para que nenhum produtor se sinta prejudicado.
Se o viajante for um conhecedor com mais experiência, pode pedir uma degustação diferenciada e nesse mesmo espaço também são oferecidos cursos de degustação para iniciantes e iniciados.



A Provence está bem representada aqui no Brasil, o grupo 'Vins de Provence' tem boa atuação aqui em SP, e promove alguns eventos através de Raphael Allemand, que trocou a França pelo Brasil há alguns anos e vem fazendo trabalho sério, dedicado, apesar de não ser possível ter aqui uma vinothéque como eles têm lá.
Também é possível encontrar bons vinhos da Provence em um espaço simpático que é 'quase' uma enoteca, a loja e importadora Le Tire Bouchon, no bairro de Santa Cecília aqui em SP. Aliás é uma das poucas boas lojas que não têm medo de ter bons vinhos brasileiros em suas prateleiras (e serve um delicioso cassoulet aos sábados, nas mesas dentro da própria loja).
Também sem preconceitos como a Tire Bouchon, quem mais tenta fazer um trabalho nesse estilo, com nacionais e importados em boa combinação, é a Lis Cereja (sim, ela é tão linda como o nome) e o sommelier Ramatis Russo, em um belo espaço na Vila Olímpia.
No entanto, por conta das forças que atuam na cidade de São Paulo, o espaço - que tinha tudo para ser nossa primeira enoteca 'per se'- é cada dia mais um super agradável restaurante/bistrô, onde os bons vinhos e a boa música ao vivo (jazz e música espanhola em noites especiais) se combinam. Também é importadora e loja, claro.
O nome? Enoteca Saint Vin Saint (foto abaixo, não muito recente, perdoem-me). Ou seja, seria realmente nossa primeira enoteca, uma pena que o mercado (e os 'gérsons' e os impostos) não entende isso direito.


Em meu 'mundo ideal', essas enotecas são espaços despojados, simpáticos, onde passamos para 'uns goles' num dia qualquer, para pegar aquela garrafa diferente para o jantar, onde paramos com uma amiga com a qual queremos conversar (e uma taça de espumante é muito necessária para o bom andamento do papo), onde somos recebidos como velhos conhecidos e quando há uma novidade - quer sejamos clientes de 100 reais ou de mil reais - somos chamados para um gole. E não abusamos, provamos o vinho, falamos a verdade (agrada ou não, eu compraria ou por que não compraria), trocamos 'um dedo de prosa' e seguimos nosso caminho.
Esse lugar, ao menos aqui, não existe.


Bom final de semana e bons goles!









quinta-feira, 16 de junho de 2011

O que não há

Os leitores deste blog sabem que circulo muito pelos terroirs brasileiros e alguns de meus amigos sabem que uma 'meia dúzia' de coisas me incomoda muito quando se trata do que deve ser feito para que os vinhos brasileiros tenham mais público e mais espaço nas taças de nossos cidadãos.
Já falei aqui (e voltarei ao assunto oportunamente) sobre os preços dos vinhos nos supermercados, sobre a variedade ridícula de produtos, sobre a dificuldade de encontrar novidades nesta que é a maior cidade do país e da América Latina, sobre as cartas de vinhos de nossos restaurantes, que não contemplam vinhos brasileiros e nem ao menos fazem um esforço de conscientização de seus funcionários, quanto mais de seu público.
Mas hoje vou falar de outra coisa.
Vou falar das enotecas, palavra que - na minha edição um pouco velha - nem existe no dicionário Aurélio.
É uma palavra italiana que vem do grego, e significa 'armazén/museu de vinhos'. No entanto, na Itália (e em alguns outros países com tradição séria de vinhos) é um local onde turistas e residentes podem provar produtos (pagando ou não, depende do local) e comprá-los a preços mais interessantes.
Isso 'fala' sobre uma sociedade mais evoluída, onde o trabalho de cada ser humano é valorizado e portanto evita-se ir a um lugar para comer e beber de graça, sem comprar nada.

  ((Vamos lá pessoal, o 'Gérson' já passou dos limites por aqui, tem gente que vai ao supermecado nos dias de promoção para 'almoçar' só com as porções dos divulgadores e aqueles pedaços de pão doce e de fruta que ficam cortados para as pessoas. É sério, já vi gente parada ao lado do pratinho comendo 7/8 pedaços de melancia. E pior, comem produtos que eram para venda dentro do estabelecimento e largam a embalagem na fila do caixa. Quem nunca viu isso?))

Mas voltando ao assunto, quando estive na Itália no começo do ano, visitei algumas enotecas, em vários estilos. Numa troca de emails recente com meu colega de viagem falei que sentia enorme falta de ter um lugar assim aqui. Ele me escreveu: "Por que você não abre a sua? Vai falir, mas ao menos vai beber o estoque."
Ele tem razão, abrir um estabelecimento desses aqui no Brasil é uma loucura, a carga tributária é impeditiva, os 'gérsons' são muitos e a tudo isso soma-se o fato de que não é costume do brasileiro tomar uma ou duas taças de vinho, da mesma forma que faz com a cerveja - apenas porque é agradável e deu vontade.
Somos poucos (pouquíssimos para ser sincera) os que gostam de fazer isso e apreciariam ter um espaço como esse.
Mas frequentemente penso que se isso é possível com o boteco e a cerveja, deveria ser possível com o vinho.
O mais incrível é que mesmo no sul esse tipo de estabelecimento não existe.
Não sei se é pelo fato das vinícolas não quererem oferecer seus produtos em um espaço comunitário, quando eles tem na vizinhança seu próprio espaço, onde não terão concorrência ou não serão alvo das inevitáveis comparações.
Pode ser que esse seja um dos fatores, e aí a única saída é a melhora dos produtos para que na comparação a coisa fique mais solta, a prática de preços mais competitivos e umas horas de terapia para melhorar a auto-estima dos que tem complexo de 'primos-pobres'.
Vejam só, costumo ir xeretar as novidades em vinhos na loja do andar superior do Canta Maria, na entrada de Bento Gonçalves, mas se eu quiser provar algo, tenho que comprar, mesmo que exista um cartaz anunciando uma super oferta (seria interessante provar uma taça antes de comprar, certo?). É um restaurante, afinal.
Conheci, na mesma cidade de Bento Gonçalves, duas outras lojas que não eram restaurantes, que tinham estoques interessantes, sala de degustação e até ofereciam alguns produtos para prova dos clientes que apareciam a qualquer momento do dia. Nenhuma delas resistiu ao teste do tempo. Uma delas continua existindo na internet, e é onde compro a maioria das garrafas de vinhos brasileiros.
Triste, muito triste.
Voltando para a Itália.
Abaixo vocês veem duas fotos da fachada do restaurante (e enoteca) Cá de Vén, na cidade de Ravenna - cidade que guarda o maior acervo de arte Bizantina do mundo, tendo sido a última capital do império Romano do Oriente.
O restaurante fica no Palazzo Rasponi, erguido no final de 1300. Coisa nova. Funciona como espaço de comida e vinhos desde 1975, zelando pelas tradições da Emilia Romana, mas abrindo lugar também para eventos e jantares especiais de várias outras zonas produtoras, não só a Itália, diga-se de passagem.



Era noite de inverno, por isso a qualidade um tanto lamentável das fotos acima.


Um dos salões, mais antigo, abriga mesas comunais e até um mezanino, mas tudo com toques de modernidade nos lugares certos (vejam a iluminação).


Algumas das caprichadas (e muito antigas) pinturas das abóbodas foram recuperadas e mantidas, um dos detalhes que garantem que o restaurante tenha o aval de uma instituição italiana que controla as cantinas históricas (Bottega Storica). Os armários escuros nas laterais armazenam vinhos, como 'literalmente' uma enoteca (veja abaixo).



A parte do restaurante onde ficamos é bem mais moderna, valoriza os arcos da construção original, mas abre uma enorme parede de vidro que mostra a beleza da construção de pedra ao lado, iluminada por fora. Os espaços são grandes, com mesas e cadeiras confortáveis e boa circulação.
O cardápio prioriza os pratos da região, mas com variedade para agradar até mesmo celíacos e crianças.
Abaixo está a entrada que nos foi servida, uma salada de presunto Parma com parmesão Grana Padano (que eu não comi, pois não como parmesão) e molho de aceto balsâmico.
Atentem: Reggio (onde se faz parmesão - parmeggiano reggiano), Parma (onde se faz o presunto) e Modena (onde se faz o aceto balsâmico) são algumas das cidades da região, não muito distantes de Ravenna.



Acompanhamos os primeiros pratos com um vinho branco da região, da uva Albana di Romagna, que fez par com as saladas (foram duas) e com a massa, um tortelli de ricotta com manteiga e sálvia.




Acima está o filé mignon (um luxo enorme na Europa onde carne de vaca é muito cara) com molho cremoso de açafrão (outro luxo), verduras de inverno (mache) e batatinhas ao forno com alecrim.


A salada morna de radiccio com pancetta.


Para finalizar, uma taça de Albana di Romagna doce acompanhava um tiramissú em potinho de barro. Um charme delicioso.


Na última foto, acima, está a entrada do restaurante. Ao ampliarem a foto, você verão algumas pessoas sentadas em volta de uma barrica e outras ao lado de uma das estantes de vinhos. Elas não vão jantar, estão lá apenas aproveitando uma taça de vinho em uma noite fria de sábado.
Para os que ficaram curiosos, o site do local é www.cadeven.it
Amanhã vou falar de outro estilo de enoteca.
Bons goles, sentindo a falta do que não há por aqui.




domingo, 12 de junho de 2011

12 de junho

Hoje é dia dos namorados!


Se estiver sozinho, proteste um pouco, quem sabe alguém aparece para fazer um carinho?


Mas se ninguém aparecer hoje, não deixe de aproveitar sua própria companhia,


não vá dormir na pia por ninguém, você é mais bacana do que isso!


Mas se tiver uma companhia que combina com você, aproveite o dia!


Feliz dia dos Namorados!

P.S.: By the way gatão, ILY!


sexta-feira, 10 de junho de 2011

Um pedaço da Itália no Brasil


Quando eu tinha 18 anos (na década de 1980) passei uma temporada na Itália.
Era a primeira vez que eu visitava a Europa e isso foi extremamente marcante para mim.
A moda, a arquitetura, a cultura, a arte que permeia várias instâncias da vida das pessoas, a paisagem, a culinária levada a sério, os vinhos sem compromisso, as amizades fáceis, tudo isso entrou em meu cérebro de uma forma que mudou minha maneira de ver o mundo para sempre.
Talvez, ao me enfronhar no mundo do vinho brasileiro, eu - de certa forma - resgate em parte essas experiências e por isso tantas vezes eu tenha a sensação de 'voltar ao passado' quando estou em algumas partes do sul.
Uma delas em particular 'fala' comigo muito de perto. É a propriedade da vinícola Don Giovanni, no distrito de Pinto Bandeira, uma área um pouco mais alta e fria do município de Bento Gonçalves.
A antiga casa da família Dreher-Giovaninni foi transformada em pousada pela mãe Beatriz e agora é administrada pela filha (Paula, se não me engano), que não por acaso namora um italiano.
Fiquei hospedada lá com meu marido há alguns anos (creio que foi em 2006) e fomos tão bem recebidos que nem parecíamos estranhos ao Sr. Ayrton e a Sra. Beatriz.
Casa, hospedaria, restaurante e vinícola se misturam de forma harmoniosa e, ao voltar lá neste ano para uma visita de trabalho, me impressionei com as mudanças que só fizeram melhorar o que já era bom.
Vou falar de lugar, de comida e de gente, mas preciso dizer que eu não teria chegado até lá se não fosse pelo vinho. Os espumantes (e o brandy) da Don Giovanni são especiais, saem fora do lugar comum e devem ser provados por todos os que procuram produtos diferenciados.
O enólogo é o Luciano Vian (na foto abaixo no Concurso do Espumante Brasileiro em 2009), uma das pessoas que tem os pontos de vista mais opostos aos meus e justamente por isso eu adoro nossas entrevistas/debates. 


Ainda nesta semana, conversando com um produtor de vinhos, concordamos que para ter boas relações com as pessoas, não é necessário sempre concordar com elas. Bons amigos são diversos e o ponto em comum é o respeito mútuo. Sempre senti isso com o Luciano e - para minha sorte - seus espumantes são muito bons.
Mas voltando à Don Giovanni: foram feitas algumas modificações nas caves que favoreceram o trabalho e a maturação dos espumantes, pois praticamente tudo o que é feito lá é pelo método tradicional (ou champenoise, aquele no qual a segunda fermentação ocorre na própria garrafa).





Quando se sai da área de produção, chega-se a loja que tem ao seu lado uma moderna sala de degustação. Todos esses espaços foram remodelados e renovados, mas sem perder o achonchego que caracteriza a vinícola.


Saindo da loja, somente alguns passos separam da entrada do restaurante, que fica sob a pousada. É lá onde são servidas as refeições especiais que a equipe de Beatriz e da filha preparam, com foco nítido nos produtos que são cultivados ali mesmo. A alcachofra é uma das estrelas locais, vinda de um lado da propriedade cuidado com carinho pela família.
Congeladas cruas, as alcachofras vão sendo preparadas ao longo do ano, em conservas ou em risotos, servidos generosamente acompanhando alguns dos bons tintos da casa.


Passando a pousada estão os vinhedos, que se estendem encosta acima (na foto abaixo), com boa insolação.


Praticamente no meio deles um antigo depósito foi transformado em suite há pouco mais de dois anos, com direito a banheira, lareira e vista privilegiada dos vinhedos.


Hospedar-se na Don Giovanni é desfrutar de um cenário, de um atendimento e de uma atmosfera onde tudo está em harmonia. Sem uma enormidade de luxos modernos (que, convenhamos, nem combinariam com o local), é um pouso para quem quer ficar imerso em outro estilo de vida, onde é possível parar, depois de uma caminhada, para comer nozes pecãs da árvore ao lado e mandarinas dos jardim, enquanto se observa a tarde findar.


Se eu tivesse oportunidade, era onde gostaria de passar este final de semana dos namorados com meu marido.
Bons goles, muito amor (pois só ele é capaz de fazer com que atravessemos as fases mais duras da vida) e muita tranquilidade!